segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entre um verde e outro

A discussão sobre o consumo consciente revela a vaidade dos setores relacionados, retarda o benefício ao consumidor final e atrapalha o meio ambiente

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No mês de março foi lançada a campanha da rede Carrefour para substituir as sacolas plásticas comuns, distribuídas em suas unidades, por sacolas biodegradáveis. O hipermercado quer atingir 100% das lojas em quatro anos. A notícia foi suficiente para abrir uma discussão sobre o consumo consciente na mídia, e para aquecer a justificativa dos setores engajados no assunto.

As sacolas biodegradáveis custam entre 10% a 15% a mais do que as comuns, o que desestimula muitas lojas varejistas (já que são as que mais distribuem ao consumidor) a adotá-las. Sem contar que faltam políticas públicas para incentivar desde o micro ao grande empresário a implantá-las no comércio.

Padronizar, antes de tudo

A Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (ABIEF) comemora o programa de certificação das sacolas plásticas dentro das Normas da ABNT. A padronização garante resistência e qualidade ao produto. Com apenas, uma unidade, por exemplo, é possível acomodar um volume de até 6 quilos.

Em 2007 o programa criado pela associação promove a conscientização e a redução do desperdício no varejo. Em três anos houve uma queda de 16,2% (Em 2007 o consumo no Brasil era de 17,9 bilhões de sacolinhas. Em 2008 caiu para 16,2 bi . E em 2009 para 15 bi).

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Fúria e isenção de culpa


Um editorial, feito pela Folha de S. Paulo em 6 de Março de 2010 (sobre a saudação à iniciativa do Carrefour), causou perda de compostura da ABIEF. No site, uma carta assinada pelo presidente, Alfredo Schmitt, consta: "É um conceito errôneo classificar as sacolas plásticas como lixo, pois estas são recicláveis". E ironizou: “se há sacolas flutuando em algum rio, é porque alguém fez o descarte de modo inadequado”.

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Como promoção para o correto fim das sacolas plásticas, a associação criou um hotsite com informações sobre os pontos de coleta e reciclagem das embalagens: http://www.sacolinhasplasticas.com.br/. Porém, o que a ABIEF não divulga é uma estimativa de quantas, das sacolas produzidas, são recicladas.


Sacolas oxibiodegrádeveis salvam o planeta?

Segundo o Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (PlastiVida) não. Estes materiais não se “biodegradam” (ou seja, não se decompõem por um processo natural), pois recebem um aditivo para acelerar o processo de degradação.

Eles afirmam que a decomposição não acontece em até seis meses, item requerido por normas técnicas nacionais e internacionais. Ao inicio da degradação, o material transforma-se em milhares de pedaços e não desaparecem. E preveem: "Os resíduos viram um pó que pode contaminar córregos, rios, represas, lagos e mares".

Com relação à campanha do Carrefour, o Instituto desafia a rede a adotar normas técnicas para garantir que a resistência das novas sacolas seja iguais as das sacolas comuns.

Onde entra o consumidor

As dificuldades não acabam por aí. Conforme a pesquisa “Consumidores conscientes - o que pensam e como agem” do Instituto Akatu, uma parcela significativa do público pode deixar de considerar impactos sócio/ambientas, no momento de decisão da compra, se houver preço mais elevado ou falta de informações do produto.

A assistente comercial, Fernanda Macedo, busca comprar produtos responsáveis desde que não tenha um preço muito elevado com relação aos demais. “Não dá pra pagar muito acima do valor médio”, desabafa. “Claro que prefiro, ao comprar refrigerante, por exemplo, adquirir embalagens retornáveis do que as de plástico”, completa.


Consumidora na busca de produtos responsáveis ecologicamente, mas que não agridam ao bolso.


É difícil assim?


O Instituto Akatu ainda revela que a consciência não necessariamente corresponde ao comportamento. Ou seja, há uma maior a tendência do público em ter as opiniões esperadas de um consumidor consciente, do que efetivamente adotar as práticas correspondentes no seu dia-a-dia.

É como, por exemplo, se perguntarmos aos nossos colegas, de alguma forma, se eles preferem produtos ecologicamente corretos e se esperam que as empresas sejam mais responsáveis. Provavelmente a maioria responderá que sim. Mas se perguntar quantos deles fazem a separação dos materiais recicláveis em casa para coleta seletiva, provavelmente a resposta será contrária.

Enquanto isso

Talvez esta consciência verde ainda esteja engatinhando. Mas a questão do descarte do lixo já é bem antiga. Portanto, o que nos resta fazer?

Enquanto as sacolas biodegradáveis não invadem o comércio, muitas redes varejistas vendem sacolas retornáveis entre R$ 3,99 a R$7,99. O material é lavável, resistente e normalmente tem um design atraente. Aproveite a deixa para usar uma dessas sacolas retornáveis nas próximas compras, dê o fim correto a cada material, e sempre que possível, prefira os bons produtos: para natureza e para o seu bolso.

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